Quando convidadas a falar sobre os impactos mais importantes da PretaLab em suas vidas, as mulheres mencionam principalmente a sensação de pertencimento. Em seguida, apontam acolhimento, a participação em uma comunidade que alia tecnologia, gênero e raça com o aumento da consciência nessas esferas e, também, o aumento do autoconhecimento. Cada uma dessas conquistas estão diretamente relacionadas ao mesmo tópico: a metodologia da PretaLab, concebida para promover o desenvolvimento das mulheres considerando suas necessidades e identidades.   

“Me via muito sozinha no meio e sem entender se era um caminho. Quando você vê tantas mulheres com a mesma intenção e alguém falando ‘é possível’, ‘sim, eu sou’… Eu não tinha aquilo no momento, então fez muita diferença saber que a rede existia e que eu estava amparada. Tive o espelho que não tinha”, afirma uma participante de Goiás, em relato para a pesquisa. 

Desde sua origem, a PretaLab não se propôs ser exclusivamente um lugar de formação técnica, mas um espaço em que as subjetividades das mulheres negras estão no centro, com formadoras negras, num ambiente seguro e acolhedor para as trocas e a possibilidade de se ver em outros lugares. Assim, a iniciativa do Olabi cumpre com Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4, cuja meta é “assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos”.

A partir da convicção de que é preciso combinar formação técnica e acolhimento, a PretaLab desenvolve uma metodologia única e inclusiva, focada em três pilares: conhecimento técnico, autoconhecimento e autogestão. Um nome central nesse processo foi Michelle Borges Miranda, ou Biamichelle, que nos deixou precocemente, aos 35 anos, em novembro de 2022. Mulher negra, ribeirinha, paraense, pesquisadora, ela congregava vasta experiência prática e teórica à própria vivência. Era conhecida pelo compromisso com o rompimento das desigualdades raciais e sociais ou qualquer tipo de opressão dentro e fora do universo da tecnologia. Se a metodologia da PretaLab foi criada por muitas pessoas, Biamichelle foi a grande incentivadora do processo. Em 2021, foi convidada a trabalhar no redesenho do percurso metodológico calcado no pertencimento, grande diferencial do projeto com relação a outros espaços de aprendizagem. 

“Para mulheres pretas, é sempre mais difícil entrar no mercado de trabalho e ser reconhecida boa naquilo que você faz, é um ambiente masculino e branco. A PretaLab te dá a visão que você não tá sozinha, ela te traz esse abraço”, diz uma participante de Planaltina, em Goiás. 

Hoje coordenadora do percurso metodológico, Amanda Silva lembra que ela própria já havia participado de diversos cursos antes de chegar como aluna à PretaLab: “Fiz outras formações que não eram voltadas para mulheres negras e tinha vergonha de fazer perguntas, sabia que não tinha os mesmos acessos que as outras mulheres ali tinham”. Para ela, o fato de a iniciativa do Olabi ter uma psicóloga foi o que “virou uma chave” em seu processo de aprendizado. “Por meio das trocas com ela e com as outras mulheres negras da PretaLab, entendi que posso pertencer, sim. É claro que o conhecimento técnico é fundamental, mas foi o empoderamento que me permitiu acreditar que podia fazer o que eu quisesse”, afirma.  

Mestre em Psicologia pela USP, Monica Santana chegou à PretaLab no final de 2020. Era professora de cursos de pós-graduação, tinha um cargo público, mas não se sentia satisfeita – “O que eu queria mesmo era ajudar mulheres negras periféricas, como eu”, diz. Muitos aspectos do percurso metodológico já estavam desenvolvidos por Biamichelle, e Monica ficou responsável por planejar uma trilha de autoconhecimento. A psicóloga partiu da ideia de uma abordagem afrocentrada, focada não nas heranças sociais da escravidão, mas sim nas potências ancestrais da população negra. “Do ponto de vista simbólico, é importante trazer uma perspectiva que, de saída, fosse de valorização, a fim de trabalhar a autoestima desde o início.” 

Depois da ancestralidade, ela trabalha a segregação, com o objetivo de debater estratégias psicológicas para circular em espaços de poder. “Falo com as minhas alunas muito do que eu vivi. É a partilha das minhas experiências, do que eu trabalho na minha psicoterapia, do que eu desenvolvi como estratégias para não adoecer nesses lugares em que historicamente não fomos vistas”, explica. Monica se refere à gestão de emoções ou soft skills básicas relacionadas à permanência no emprego e à construção de carreira: “Tudo isso é incorporado ao percurso metodológico com um direcionamento para que tratemos de saúde mental no ambiente de trabalho, pensando no desenvolvimento profissional das mulheres”.

Em depoimento para a pesquisa sobre os impactos da PretaLab, uma participante de Abaetetuba, no Pará, ressalta o papel dos encontros com a psicóloga: “Com as aulas da Mônica, pude perceber onde estou e para onde quero ir. Nesse ambiente seguro, eu percebo que posso ser eu, posso conseguir algo melhor para a minha vida. Depois que entrei, percebi isso, e elas me ajudam a trilhar esse caminho”.

Gestora de projetos da PretaLab, Joyce Mara dos Santos costuma estar em contato com todas as participantes. Durante a pandemia, quando surgiu o primeiro ciclo formativo do projeto, ela conta que as mulheres relatavam várias angústias com relação ao futuro, enquanto viviam em suas famílias os impactos causados pela Covid-19. “Naquele momento, muitas me procuravam para compartilhar suas dores, desde os problemas de saúde até as dificuldades para entregar trabalhos em meio a processos de depressão. Quando elas se sentem num espaço em que outras mulheres compartilham as mesmas dores, percebem que não estão sozinhas e conseguem trocar com muita segurança”, afirma Joyce. 

As participantes se reconhecem nas professoras e profissionais negras que trabalham no projeto e estabelecem uma conexão instantânea com a iniciativa.  Como afirma uma aluna de Canavieiras, na Bahia: “É uma ação de mulheres negras preocupadas e comprometidas na ampliação e atuação das mulheres nos espaços da tecnologia, em diversos campos. Possibilita a construção de espaços seguros para que mulheres negras possam alcançar segurança econômica e ampliação de consciência”. A partir disso, passam a projetar novos horizontes de vida e de trabalho, sentem-se mais motivadas a estudar e a investir tempo e energia em uma carreira mais promissora. Ao cruzar gênero, raça, tecnologia e empregabilidade, a PretaLab se firma como um espaço em que as dores  compartilhadas se transformam em força coletiva.

Quando convidadas a falar sobre os impactos mais importantes da PretaLab em suas vidas, as mulheres mencionam principalmente a sensação de pertencimento. Em seguida, apontam acolhimento, a participação em uma comunidade que alia tecnologia, gênero e raça com o aumento da consciência nessas esferas e, também, o aumento do autoconhecimento. Cada uma dessas conquistas estão diretamente relacionadas ao mesmo tópico: a metodologia da PretaLab, concebida para promover o desenvolvimento das mulheres considerando suas necessidades e identidades.   

“Me via muito sozinha no meio e sem entender se era um caminho. Quando você vê tantas mulheres com a mesma intenção e alguém falando ‘é possível’, ‘sim, eu sou’… Eu não tinha aquilo no momento, então fez muita diferença saber que a rede existia e que eu estava amparada. Tive o espelho que não tinha”, afirma uma participante de Goiás, em relato para a pesquisa. 

Desde sua origem, a PretaLab não se propôs ser exclusivamente um lugar de formação técnica, mas um espaço em que as subjetividades das mulheres negras estão no centro, com formadoras negras, num ambiente seguro e acolhedor para as trocas e a possibilidade de se ver em outros lugares. Assim, a iniciativa do Olabi cumpre com Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4, cuja meta é “assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos”.

A partir da convicção de que é preciso combinar formação técnica e acolhimento, a PretaLab desenvolve uma metodologia única e inclusiva, focada em três pilares: conhecimento técnico, autoconhecimento e autogestão. Um nome central nesse processo foi Michelle Borges Miranda, ou Biamichelle, que nos deixou precocemente, aos 35 anos, em novembro de 2022. Mulher negra, ribeirinha, paraense, pesquisadora, ela congregava vasta experiência prática e teórica à própria vivência. Era conhecida pelo compromisso com o rompimento das desigualdades raciais e sociais ou qualquer tipo de opressão dentro e fora do universo da tecnologia. Se a metodologia da PretaLab foi criada por muitas pessoas, Biamichelle foi a grande incentivadora do processo. Em 2021, foi convidada a trabalhar no redesenho do percurso metodológico calcado no pertencimento, grande diferencial do projeto com relação a outros espaços de aprendizagem. 

“Para mulheres pretas, é sempre mais difícil entrar no mercado de trabalho e ser reconhecida boa naquilo que você faz, é um ambiente masculino e branco. A PretaLab te dá a visão que você não tá sozinha, ela te traz esse abraço”, diz uma participante de Planaltina, em Goiás. 

Hoje coordenadora do percurso metodológico, Amanda Silva lembra que ela própria já havia participado de diversos cursos antes de chegar como aluna à PretaLab: “Fiz outras formações que não eram voltadas para mulheres negras e tinha vergonha de fazer perguntas, sabia que não tinha os mesmos acessos que as outras mulheres ali tinham”. Para ela, o fato de a iniciativa do Olabi ter uma psicóloga foi o que “virou uma chave” em seu processo de aprendizado. “Por meio das trocas com ela e com as outras mulheres negras da PretaLab, entendi que posso pertencer, sim. É claro que o conhecimento técnico é fundamental, mas foi o empoderamento que me permitiu acreditar que podia fazer o que eu quisesse”, afirma.  

Mestre em Psicologia pela USP, Monica Santana chegou à PretaLab no final de 2020. Era professora de cursos de pós-graduação, tinha um cargo público, mas não se sentia satisfeita – “O que eu queria mesmo era ajudar mulheres negras periféricas, como eu”, diz. Muitos aspectos do percurso metodológico já estavam desenvolvidos por Biamichelle, e Monica ficou responsável por planejar uma trilha de autoconhecimento. A psicóloga partiu da ideia de uma abordagem afrocentrada, focada não nas heranças sociais da escravidão, mas sim nas potências ancestrais da população negra. “Do ponto de vista simbólico, é importante trazer uma perspectiva que, de saída, fosse de valorização, a fim de trabalhar a autoestima desde o início.” 

Depois da ancestralidade, ela trabalha a segregação, com o objetivo de debater estratégias psicológicas para circular em espaços de poder. “Falo com as minhas alunas muito do que eu vivi. É a partilha das minhas experiências, do que eu trabalho na minha psicoterapia, do que eu desenvolvi como estratégias para não adoecer nesses lugares em que historicamente não fomos vistas”, explica. Monica se refere à gestão de emoções ou soft skills básicas relacionadas à permanência no emprego e à construção de carreira: “Tudo isso é incorporado ao percurso metodológico com um direcionamento para que tratemos de saúde mental no ambiente de trabalho, pensando no desenvolvimento profissional das mulheres”.

Em depoimento para a pesquisa sobre os impactos da PretaLab, uma participante de Abaetetuba, no Pará, ressalta o papel dos encontros com a psicóloga: “Com as aulas da Mônica, pude perceber onde estou e para onde quero ir. Nesse ambiente seguro, eu percebo que posso ser eu, posso conseguir algo melhor para a minha vida. Depois que entrei, percebi isso, e elas me ajudam a trilhar esse caminho”.

Gestora de projetos da PretaLab, Joyce Mara dos Santos costuma estar em contato com todas as participantes. Durante a pandemia, quando surgiu o primeiro ciclo formativo do projeto, ela conta que as mulheres relatavam várias angústias com relação ao futuro, enquanto viviam em suas famílias os impactos causados pela Covid-19. “Naquele momento, muitas me procuravam para compartilhar suas dores, desde os problemas de saúde até as dificuldades para entregar trabalhos em meio a processos de depressão. Quando elas se sentem num espaço em que outras mulheres compartilham as mesmas dores, percebem que não estão sozinhas e conseguem trocar com muita segurança”, afirma Joyce. 

As participantes se reconhecem nas professoras e profissionais negras que trabalham no projeto e estabelecem uma conexão instantânea com a iniciativa.  Como afirma uma aluna de Canavieiras, na Bahia: “É uma ação de mulheres negras preocupadas e comprometidas na ampliação e atuação das mulheres nos espaços da tecnologia, em diversos campos. Possibilita a construção de espaços seguros para que mulheres negras possam alcançar segurança econômica e ampliação de consciência”. A partir disso, passam a projetar novos horizontes de vida e de trabalho, sentem-se mais motivadas a estudar e a investir tempo e energia em uma carreira mais promissora. Ao cruzar gênero, raça, tecnologia e empregabilidade, a PretaLab se firma como um espaço em que as dores  compartilhadas se transformam em força coletiva.

Contato:

comunidade@olabi.org.br

Sobre o Olabi

A PretaLab é uma iniciativa do Olabi, organização social que trabalha para trazer diversidade para a tecnologia e inovação. Se quiser colaborar com alguma dessas frentes de ação, entre em contato conosco.

A PretaLab é uma iniciativa do Olabi, organização social que trabalha para trazer diversidade para a tecnologia e inovação. Se quiser colaborar com alguma dessas frentes de ação, entre em contato conosco.

Contato:

comunidade@olabi.org.br

Sobre o Olabi

A PretaLab é uma iniciativa do Olabi, organização social que trabalha para trazer diversidade para a tecnologia e inovação. Se quiser colaborar com alguma dessas frentes de ação, entre em contato conosco.

A PretaLab é uma iniciativa do Olabi, organização social que trabalha para trazer diversidade para a tecnologia e inovação. Se quiser colaborar com alguma dessas frentes de ação, entre em contato conosco.